Saturday, February 18, 2012

A Verdade

Pelo Rev. Jose Oliveira, M. Div.
verdadeVerdade... Um conceito tão importante, tão admirado, tão exaltado, tão pouco entendido e tão pouco praticado! Quando Jesus foi perguntado por Pilatos “O que é a verdade?” Jesus respondeu com silêncio. Ele tinha os seus motivos para não responder… Mas eu, hoje, humildemente vou me aventurar neste dificil campo. Existem várias maneiras de definir o que é verdade. Primeiro, por oposição: verdade é o oposto da mentira e falsidade. Depois, por afirmação: verdade é a exata correspondência entre uma idéia e fato (entre a idéia e o objeto desta idéia). Mas, qual seria função da verdade? Para que serve a verdade? Em primeiro lugar descobrir a verdade traz segurança de que você esta lidando com algo que é real, não uma ilusão (isso vale até mesmo quando você encontra a verdade a respeito de uma ilusão; você sabe que está lidando com uma ilusão, não com algo real). Além disso, a verdade traz satisfação. Jesus disse: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. A verdade liberta, até mesmo quando ela pode leva-lo à prisão: este é o motivo porque pessoas com consciência confessam os seus crimes -- por que desejam se libertar da culpa -- e, neste afã, confessam a verdade, o primeiro passo para isso. Por fim, a verdade inspira. Todo descobrimento da verdade inspira a busca de outras verdades. Nesta oportunidade, gostaria de trazer algumas reflexões a respeito da verdade. Eis aqui a definição básica que guiará essa reflexão: Verdade é um conceito intelectual que expressa a origem, substância e propósito últimos de todos os seres, coisas e fenômenos.

Comecemos por afirmar que, para nós, seres humanos, a verdade é uma formulação intelectual. Existe uma diferença ontológica entre a coisa em si e o seu conhecimento. É a diferença entre Ontologia e Epistemologia. Somos incapazes de conhecer as coisas externas em si mesmas. Para tanto teríamos que nos tornar essas coisas mesmas. O máximo que podemos conhecer a respeito das coisas é através do nosso relacionamento com elas; aí, temos uma experiência em relação àquele objeto. Portanto, a verdade é uma formulação intelectual a respeito de algo. A nossa formulação da verdade depende de alguns pressupostos. Primeiramente dependerá da qualidade da informação que temos para a formulação da verdade. Se essa informação é fundamentada em fontes confiáveis (autoridades), este é um passo em direção à verdade. Depois, há o processo da formulação da verdade. Quanto mais imparcial for este processo, mais chances há de se conhecer a verdade. E por fim, há a finalidade dessa busca. A verdade se basta. Se qualquer busca da verdade tiver outra agenda do que a própria verdade, essa busca está comprometida e, portanto, a formulação da verdade será comprometida.
 
A seguir, a outra afirmação que se faz necessária a respeito da verdade é que, para seres humanos, a verdade sempre será relativa. Essa relatividade decorre da própria condição e subjetividade humana. Ainda que você esteja assumindo a verdade formulada por outros, a compreensão dessa formulação será a sua compreensão, portanto subjetiva. Qualquer formulação da verdade depende da base de informação que o indivíduo possui para construir novas concepções. Assim, a formulação da verdade dependerá da qualidade e quantidade dessa informação previamente armazenada no intelecto. Jesus Cristo quando ascendeu aos céus, nos enviou o seu Espírito da Verdade, que nos “guiaria a toda verdade”. Veja-se que não diz: “daria” toda verdade. O Espírito da Verdade não transmite a verdade, embrulhada de presente. Ele o guia nesta busca. Mas é você, utilizando as informações que já possui, quem formula o seu conceito de verdade.
Por último, afirmemos que Deus é a verdade absoluta. Deus sendo a não-originada Origem de tudo, o Ser de quem todas as realidades foram geradas, e o fim de Si mesmo (Deus não existe para alguma finalidade em particular), é a Verdade Absoluta. Seres humanos, ainda que através de Jesus Cristo, um dia se receberão em si mesmos a natureza divina, e assim conhecerão a natureza de Deus. Este conhecimento, entretanto, ainda que se prolongue por toda eternidade, será sempre um conhecimento finito do Infinito. Portanto, o máximo conhecimento que eternamente teremos de Deus, será sim, verdadeiro, mas será sempre parcial, por que nunca poderemos abranger a natureza absoluta de Deus. Para isso teríamos que ser deuses exatamente como Ele é, e sabemos que só existe UM Deus, o Deus vivo e verdadeiro, criador de todas as coisas; nosso Pai, por intermédio de Jesus Cristo, o Soberano Senhor deste Universo.

O conhecimento humano da verdade é, e sempre será, processual, relativo, finito. Somente Deus possui conhecimento absoluto, pois Ele é absoluto em Si mesmo. Ao finalizar esta reflexão deixe-me dizer que o fato de que nosso conhecimento da verdade seja ultimamente relativo e limitado, não quer dizer que seja falso, é, contudo, provisório, especialmente a respeito de Deus, por que sempre há mais que conhecer a respeito dEle. Qualquer conhecimento humano da verdade, portanto, é aquele que é possível para aquela condição particular de cada um de nós. Mesmo o ateu, quando afirma que não há Deus (na verdade uma negação da existência de Deus) essa será a sua verdade, porque, após o julgamento divino, para ele, não haverá Deus de fato. Espero que essa reflexão nos ajude a todos a sermos mais humildes a respeito de nossas “verdades”. Não é tão importante que eu saiba a verdade a respeito de tudo, mas é sumamente importante que eu CREIA na Verdade Absoluta, que é Deus.
 
Rev. Jose Oliveira, é pastor presbiteriano ordenado e o diretor do Instituto Teológico Simonton. Ele é brasileiro-americano, vivendo nos Estados unidos desde 1995. Possui um Mestrado em Divindade outorgado pelo Northern Baptist Theological Seminary, Lombad, IL , USA.

No comments:

Post a Comment