O Sucesso é Suicida? – Uma reflexão ao longo de outra.


Pelo Rev. Jose Oliveira, M. Div.

Este artigo é um comentário a um outro artigo, escrito pelo Rev. Dr. Marcos Inhauser “O Sucesso é Suicida”. Para entender o que se segue, seria bom o leitor, primeiro, ler o artigo de Inhauser.
Ontem, na festa de aniversário de meu genro, minha ex-esposa, mencionou este artigo de Marcos Inhauser, “O Sucesso é Suicida”; e, em minha mente logo objetei ao título, pensando que ela tinha se equivocado ao mencioná-lo. Como ainda não havia ainda lido o artigo, pensei comigo: “Provavelmente Inhauser escreveu, ‘O Sucesso QUE é Suicida’”, pois me pareceu uma generalização que não pensei capaz do gênio inhausariano. Quando cheguei em casa, fui verificar o artigo, e aí o encontrei, exatamente como havia ouvido: “O Sucesso é Suicida”. Não podendo admitir que, para jogar com o aspecto sonoro das palavras “sucesso” e “suicídio”, Inhauser houvera feito aqui uma exageração dura e crua, algo comum quando se trata assuntos “quentes” como celebridades e drogas, me senti inspirado a refletir com ele esse assunto, talvez com algumas ressalvas.

 Conhecendo Inhauser, e havendo estudado aos seus pés, sei das restrições que ele possui à ideologia desumanizante que certo tipo de “sucesso” carrega em si. Há pelo menos dois tipos de desumanização: a sub-humanização, que em geral é causada pela opressão de uns seres humanos sobre os outros, e a super-humanização, que é a ilusão causada em muitos seres humanos pelo sucesso ou fama (outorgados por outros seres humanos), que, aparentemente os eleva acima dos demais seres humanos. Sucesso, se entendido nesse aspecto ideológico, é maléfico, não há dúvida, e pode até ser, sim, suicida, no sentido em que, aquele que assim o busca desesperadamente, mata a si mesmo como ser humano, pela mencionada super-humanização.

Porém, há um outro tipo de “sucesso”. O sucesso de que falaram o autor do Salmo 1 e Jesus, chamando as pessoas que alcançam tal sucesso de “bem-aventurados”, e das quais o Salmo 1 declara “tudo o que fizer será bem–sucedido”. Este é o sucesso que humaniza, o sucesso de quem segue a Deus e serve ao próximo, muito bem exemplificado por Inhauser ao final do seu artigo quando lista os famosos deste tipo, aos quais, mesmo não mencionado, Jesus foi a inspiração da maioria deles. Encontramos nos Evangelhos que a fama de Jesus “corria por todos os lados”. Jesus foi e continua sendo a pessoa mais famosa de todos os tempos. Porém, ele, como ninguém, soube lidar com a fama. Que ele fez? Ele a compreendeu; e quando esta fama chegava ao ponto de comprometer o seu ministério, ele até mesmo fugia e se escondia dela. Jesus foi bem sucedido em tudo que fez. Os seus ensinos, as suas palavras, ele mesmo disse, “jamais passarão”. O seu ministério, sem dúvida, lhe trouxe fama; para si mesmo, essa fama era ínócua; mas ele a utilizou para divulgar a vontade e amor de Deus, bem como para expandir o bem fazia a um número crescente de pessoas, que se extendeu até à nossa e futuras gerações.  O sucesso de Jesus causou tanta inveja nos líderes de sua época que por fim o mataram -- mas não o levou ao suícidio. Ele soube lidar com a fama.

Há pelo menos três tipos de fama: a boa-fama, que é aquela de uma boa reputação diante (de Deus) e dos homens; a má-fama, que é tornar-se notório pelo mal que fez a si mesmo e aos outros; e aquilo que chamo da ego-fama, que é a fama da vanglória dada e buscada por muitos hoje em dia, celebridades ou não. Mas não todas. Há algumas, poucas, é verdade, que utilizam a fama para se tornarem “modelos de vida”, o que em Inglês chamamos “role-models”. Existem dois lados da fama: um é o de como a fama é dada, outro é o de como a fama é recebida. No Novo Testamento somos ensinados que nos céus haverá galardões ou prêmios para alguns pelo serviço prestado ao próximo aqui na terra. A fama deveria ser uma forma de reconhecimento pelo bom trabalho feito, mas devido o desejo deificante que seres humanos possuem, se tornou a idolatrização de alguns, que através de um relacionamento estranhamente simbiótico com esses seus ídolos, exaltam-se a si mesmos. Não há nada de errado em reconhecer o trabalho bem feito e o talento humano bem utilizado, como não há nada de errado em receber esse reconhecimento pelo que  é -- um reconhecimento -- como Jesus fez à mulher que lavou os seus pés com um perfume caríssimo, sem o receber -- ainda que pudesse, se o quisesse -- como Deus.

Milhares de pessoas morrem anualmente por overdose de drogas e álcool. Delas não falamos. Falamos das celebridades porque estão no spolight dos meios de comunicação e lhes cobramos, muitas vezes desamorosamente, uma responsabilidade, a de “modelos de vida” para o público, que cada um de nós, também falhamos em ser, em um ou outro aspecto, em nosso círculo privado. Jesus disse: “Eu a ninguém julgo”; mas nós, mesmo sabendo ser isto pernicioso a nós mesmos e principalmente aos outros, o fazemos, muitas vezes sem misericórdia.

Eu amo os artistas. Neles encontramos as mais diversas expressões da humanidade. Arte é expressar a alma humana e sua busca pelo Belo, que em última instância é a busca pelo divino. Às vezes isso é feito por contraste, mostrando-nos o Feio, mas ainda é Arte. Eu chorei quando soube da morte de Whitney Huston; não por que a idolatrasse, mas por que de repente me dei conta de quanto fui “abençoado” com a pureza de sua voz e singeleza da mensagem de muitas das suas canções. O estado em que ela morreu, por mais triste que seja, eu não julgo – é assunto dela com Deus. Mas sim posso dizer um Amém geral à oração que foi feita por LL Cool J à introdução do Grammys, agradecendo a Deus por haver compartilhado Whitney Huston conosco por um tempo.

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