Tuesday, February 21, 2012

Moralidade e Religião

pelo Rev. Jose Oliveira, M. Div.

religiao-e-moralPara muitas pessoas, Moralidade e Religião é a mesma coisa. Será mesmo? Ainda que Moralidade e Religião cruzam os seus caminhos muitas vezes tanto na Filosofia como Teologia, são conceitos e disciplinas distintos que devem ser compreendidos em suas particularidades. Comecemos por apresentar uma definição de Moralidade. Moralidade humana é um conjunto de princípios que pode variar de indivíduo para indivíduo, os quais regem o comportamento pessoal. Assim, o seu código de pessoal de princípios que definem o que é certo e errado, bom e mau, Bem e Mal, determinam a sua moralidade. Outros termos relacionados com Moralidade são imoralidade, que são os comportamentos reprovados pela Moralidade pública ou social; amoralidade é a presunção de que não há moralidade, ou seja, um conjunto de princípios que regem o comportamento; contudo, tal presunção constitui-se um principio em si e regerá a comportamento, mesmo a despeito de não se acreditar em moralidade. Religião pode ser definida em dois aspectos: pessoal e institucional. No aspecto pessoal, religião é o conjunto de convicções espirituais que o individuo possui que determinam a sua esperança para além desta vida. No aspecto institucional, religião é o sistema doutrinário ou dogmático imposto ou aceito por indivíduos a respeito de fenômenos espirituais. Não obstante possuírem campos de atuação distintos, Religião e Moralidade estão, de fato, ligadas. Que tipo de relacionamento existe entre elas? Este será o foco da nossa reflexão nesta oportunidade.

Uma Relação Funcional

A relação funcional entre Religiao e Moralidade significa dizer que elas se utilizam mutuamente, ou seja, uma ajuda à outra. Religiosidade é uma capacidade inata no ser humano, ou seja, todos os seres humanos normais possuem uma curiosidade e desejo pelo divino, pelo mundo espiritual. Religião é, portanto, antecedente à moralidade, bem como um ingrediente da mesma. Moralidade é um exercício da sabedoria humana, no sentido que estabelece um código de conduta, primeiro para o indivíduo, tanto para proteção e eficiência pessoal; depois, para o grupo, sociedade e civilização, agora para a proteção e eficiência de funcionamento do grupo. A Religião utiliza e influencia a Moralidade desde que o relacionamento com a Deidade traz consequências no relacionamento social. A Moralidade utiliza e influencia a Religião desde que a religião possui o poder de reforçar as exigências da Moralidade com conteúdos espirituais. Desta forma, Religião e Moralidade se influenciam mutuamente e a consequência é que nem tudo que a Religião prega é espiritual, mas tão somente moral, e a Moralidade muitas vezes exige uma conduta que é mais própria da Religião.

Uma Relação Social

Como começamos a indicar no ponto anterior que ambos, Religião e Moralidade, têm a ver com a sociedade, pois ambas demandam atitudes a nível social. A relação social entre Religião e Moralidade se expressa na criação daquilo que chamamos uma consciência social, ou seja, o conjunto de regras sociais que ditam a conduta de todos. Tanto a Moralidade como a Religião possuem funções sociais distintas e conjuntas, as ultimas fazem parte da já mencionada consciência social as distintas, podem ser vistas assim: A função social da Religião é espiritualizar a sociedade, no sentido de propor princípios espirituais que regulem o comportamento social. A palavra divina no Antigo Testamento, confirmada pelo Novo, dizendo: “Sede vós perfeitos, como Eu Sou perfeito” é um exemplo dessa injunção religiosa com efeitos socializantes. A função social da Moralidade é tornar a convivência social suportável e cada vez mais agradável (embora o que aconteça, muitas vezes, é exatamente o contrário, pelas muitas restrições que cria) a todos. Religião e Moralidade são duas plataformas essenciais para uma convivência social satisfatória.

Uma Relação Processual

Desde que seres humanos vivem no tempo e no espaço, constantemente fazendo história, não se pode negar que outro aspecto da relação entre Religião e Moralidade é o aspecto processual, histórico. Embora a História seja cíclica, é, também, em geral, progressiva. Certamente que há regressões localizadas, mas em geral, há um progresso que se expressa na civilização como um todo. Moralidade e Religião têm muito a ver com esse progresso, que é característica da natureza evolutiva de ambas. Religião, em si mesma, seja com ou sem a influência Revelação, progrediu do animismo ao monoteísmo, da diversificação para unificação, o que se reflete na civilização hodierna, com o que chamamos de ecumenismo. A Moralidade também evoluiu. Em termos gerais progrediu do individualismo selvagem para socialismo comunitário (independentemente de sistemas políticos-financeiros). Não importa quantos recessos a civilização humana possa experimentar, se ultimamente não se destruir a si mesma, sempre será capaz de retomar sua marcha progressiva. A Moralidade e a Religião sempre exercerão um papel preponderante nesta marcha incessante.

É impossível desvincular a Religião da Moralidade porque a primeira inevitavelmente se expressa no campo da conduta, a qual é regida, mormente, pela segunda. E por ser esta vinculação inextrincável, é impossível também desconsiderar a influência que uma exerce sobre a outra. Ainda que a Moralidade dê forma comportamental aos conteúdos religiosos, ela não deveria dar forma à Deidade, por que a concepção dessa não deveria ser fruto de projeção, mas sim de Revelação. Contudo, no processo evolutivo da Religião vemos que a ideia da Deidade começa com uma busca, adquire forma através da projeção e se aproxima da realidade através de Revelação. A Religião, em última instância deveria ser exclusivamente pessoal e sua expressão externa, uma negociação com a consciência social. A Moralidade é útil ao ser humano, mas os seus conteúdos deveriam, a rigor, serem frutos da orientação do Espírito de Deus que habita em cada ser humano normal, sugerindo em cada decisão, a que mais se aproxima da vontade de Deus. Isso significaria a espiritualização da Moralidade. Todavia, enquanto os conteúdos morais e religiosos forem concebidos por seres humanos com o intuito de controlar os outros, e não de aperfeiçoar a si mesmos, religião e moralidade serão tão somente ideologias.

Rev. Jose Oliveira é pastor presbiteriano, diretor do Instituto Teológico Simonton online, transmitindo desde Chicago, USA. Se você gostaria saber mais a respeito dos temas discutidos neste artigo, considere estudar no Instituto Teólogico Simonton, cujos programas frequentemente abordam temas como estes, desde uma perspectiva bíblica e teológica. Para acessar o site, siga o link abaixo.

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