Friday, March 2, 2012

Revelação Divina

revelacaoA teologia evangélica tem maneiras peculiares de se referir à Revelação Divina. Primeiramente a classifica como Natural e Especial; a primeira através da natureza e a segunda através das Escrituras e Jesus Cristo. Natural porque dela não se poderia inferir salvação pessoal, e especial por que através destas, sim se pode conhecer a salvação pessoal. É discutível se a revelação natural não conduz à salvação, pois a salvação é pela fé na revelação de Deus, portanto se a pessoa crê em Deus por meio da revelação natural de Deus, não lhe será “isto atribuido para justiça”, como foi a Abrãao? Na teologia evangélica também se afirma que a revelação de Deus é progressiva e parcial. Progressiva por que tanto o conteúdo como a forma de revelação progrediram histórica e qualitativamente com o decorrer do tempo. O veículo da revelação progrediu de formas rudes, como por exemplo, os profetas no princípio do reino de Saul, que utilizavam bebida alcoólica para entrarem no “transe” espiritual que lhes permitia receber a palavra profética. Também progrediu em Israel, da visão (em alguns Salmos) em que Javé era um (certamente o mais poderoso) entre muitos outros deuses, à visão de um único e soberano Deus (Isaías). Em Jesus temos a mais perfeita revelação de Deus, principalmente como Pai, jamais feita em nosso mundo. A revelação é, também, parcial; porque a revelação divina não é exaustiva, pela simples razão de que nossa natureza finita, não pode abarcar a infinitude de Deus. A revelação a nós dada, é, como Pedro afirma, mormente concernente às coisas “da salvação e piedade”, isto é nos instruem em como receber a salvação e como viver uma vida piedosa. Mas em muitos outros respeitos a revelação pode ser parcial ou mesmo omissa, porque “as coisas reveladas pertencem a nós e a nossos filhos, mas as ocultas, a Deus”, afirma o Deuteronômio. E Paulo também afirmou: “Agora vemos como por um espelho, então o veremos como realmente é”. Nesta oportunidade gostaria de refletir um pouco mais neste tema da revelação, mostrando a revelação em termos de historicização, personificação e atualização.

A Historização da Revelação (através da História)

Deus se revela através da história, por que o Deus Único e Verdadeiro não é estático, mas dinâmico e, como Francis Schaffer afirmou, ele é “o Deus que Intervém” na história universal e pessoal. Ele não assiste impassivelmente a história passar aleatóriamente ou dirijida pelos caprichos e loucuras dos governantes. Ele intervém e dirige a história de acordo com os seus própositos imediatos e de longo prazo, ainda que sem violar o livre-arbítrio do indivíduo. Seres humanos podem tomar decisões e proceder com ações que respeitem somente a si mesmo. Por exemplo, individuos são livres para crer em Deus ou não. Mas, quando decisões e ações humanas se chocam com a vontade de Deus, esta sem dúvida prevalecerá, mesmo que tome tempo aos nossos olhos humanos. Um exemplo de Deus se revelando na história encontramos nos registros do Livro de Daniel, onde claramente se vê Deus dirigindo a história através do levantamento e queda de impérios: “Esta sentença é por decreto dos vigias, e por mandado dos santos; a fim de que conheçam os viventes que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer, e até o mais humilde dos homens constitui sobre eles”. Deus tem domínio sobre o reino dos homens. Ele não se deixa surpreender e nem observa passivo as loucuras humanas. Qual é o aspecto mais importante que a historização da revelação nos ensina a respeito de Deus? É que Deus, não somente intervém na história, mas é, também, Soberano sobre ela e seus propósitos não podem ser frustrados.

A Personificação da Revelação (através de Cristo Jesus)

Se na historização da revelação, Deus se revela através de um processo histórico, na personificação da revelação Deus se revela através de um personagem histórico, Jesus de Nazaré. A encarnação, que é a vinda do Soberano deste Universo a este mundo, é o mais alto e significativo evento revelacional que o nosso mundo já experimentou. Ninguém revelou a Deus como Jesus o fez, pois ele, como a Epístola aos Hebreus afirma, é a “perfeita expressão da imagem de Deus”. Se alguém quiser conhecer como Deus é, preste atenção na vida e ensinos deste humilde carpinteiro de Nazaré, Jesus, que viveu entre nós há mais de dois mil anos atrás, e é agora o Cristo exaltado nos céus. Jesus disse, “quem vê a mim, vê o Pai” e isto é verdade ainda que seja com os olhos da fé. Em Jesus a revelação se tornou uma Pessoa, como nós, porém, vinda do Paraíso, para nos dar uma revelação definitiva da pessoa de Deus e nos dar a conhecer e exemplificar-nos como fazer a vontade do Pai que está nos céus. Que não se confunda essa revelação com Cristianismo. Se Jesus houvera deixado algo escrito por si mesmo, isso poderia ser considerado uma revelação escrita, mas ele não deixou, e em nenhum lugar ordenou aos seus apóstolos que escrevessem tal revelação. Mas o seus principais ensinos nos foram transmitidos pelos seus discípulos (alguns, provavelmente alterados devido ao processo humano e precário desta mesma transmissão) e se constituiriam uma herança espiritual para todo o mundo, se o Cristianismo não tivesse se apoderado deles de uma forma exclusivista e restritiva. A pessoa de Cristo é a revelação perfeita de Deus para todos, mas nós acessamos essa revelação por meios imperfeitos.

A Atualização da Revelação (através do Espírito de Deus)

Antes da vinda de Cristo, a revelação divina era concedida a poucos indivíduos no mundo, aos quais chamamos de profetas. Estes eram pessoas habitadas e/ou capacitadas pelo Espírito de Deus para transmitirem a mensagem de Deus ao povo. Isto, mais observável no povo de Israel, era um fenômeno que também ocorria em outras nações, dentro de suas tradições religiosas. Contudo, mesmo em Israel, os profetas anunciaram (Joel, Isaias) que esse privilégio de alguns haveria de acabar um dia, quando Deus derramasse o seu Espírito “sobre toda a carne”. Isso aconteceu no dia do Pentecostes, de acordo com a promessa de Jesus antes de subir aos céus (Atos 1), o que Pedro testificou no sermão pregado após o evento. Na verdade, o Espírito de Deus veio a “toda carne”, para habitar todos os seres humanos normais vivendo neste mundo a partir daquele momento. Mas segundo o Cristianismo, o Espírito não veio a toda a carne, mas só aos que “aceitam a Jesus como Salvador”, e assim se pensa que todos os demais não tenham o Espírito, o que somente pode ser afirmado através de uma interpretação restritiva das mesmas escrituras cristãs. No dia de Pentecostes dois tipos de manifestações espirituais distintas ocorreram. Primeiro, o Espírito de Deus-Pai veio habitar todos os seres humanos normais, e, segundo, o Espírito de Cristo, o Espírito da Verdade, passou a ministrar neste mundo, para conduzir os crêem a “toda verdade”. Essas duas manifestações espirituais, possibilitam a atualização, em termos pessoais, da revelação divina. Depois da Ascensão de Jesus, seres humanos em geral, sem discriminação religiosa, possuem o Espírito de Deus habitando em suas mentes, fornecendo constante orientação divina para fazer-se a vontade de Deus. Isso é perceptível em diferentes níveis por diferentes indivíduos, pois o Espírito não age por força ou violência, mas mansamente, e, por isso, muitas pessoas simplesmente não percebem ou ignoram essa Sua constante orientação. A revelação do Espírito de Deus na vida pessoal de cada um é puramente espiritual, não atrelada a qualquer meio material, seja qual for. O Espírito de Cristo, o Espírito da Verdade, também presente na terra conosco, atua conforme a capacidade espiritual de cada um, conduzindo-nos, passo-a-passo, a toda verdade. Isso se constitui a atualização da revelação, até mesmo em termos cotidianos, em nossa vida pessoal.

Estou consciente de que neste artigo, defendo posições que não são tradicionais do Cristianismo. Mas o faço por amor aquilo que considero a verdade mostrada a mim, e, de nenhum modo, advogo que todos devam pensar assim. A verdade, como a revelação de Deus, é também progressiva. Pedro, mesmo depois da ascensão de Cristo, pensava que a salvação era só para os Judeus, mas através de uma visão Deus lhe mostrou diferentemente. Como o apóstolo Paulo disse, “cada um viva de acordo com a luz que possui”. Eu, neste artigo, quis apenas jogar um pouco mais de luz na discussão a respeito da revelação. Mas pode ser que o que é luz para uns, ofuscam ou cegam a outros... Neste caso, permaneça com a sua luz, até que Deus lhe mostre diferente, quando e se mostrar. Custou-me quarenta anos de fé em Jesus Cristo para chegar a estas conclusões, e essas conclusões são minhas; todos devem chegar às suas próprias conclusões.

Jose Oliveira, M. Div., é pastor presbiteriano, vivendo nos Estados Unidos, e o diretor do Instituto Teológico Simonton para estudantes de fala portuguesa. O acima exarado é sua opinião e de nenhuma maneira faz parte obrigatória do currículo da Escola que ele dirige. Se você quiser estudar em uma escola teológica que lhe dá liberdade de chegar às suas próprias conclusões, conheça mais a repeito do ITSimonton, clicando no link abaixo:

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