Quando uma pessoa surda-muda utiliza sinais para se comunicar com as demais,
ela está utilizando a Semiologia. Semiologia, ou semiótica, é chamada a ciência
dos sinais, ou do signos. É impossível para seres humanos se comunicarem ou se
expressarem sem a mediação de signos. Gestos, sons, sinais, palavras, letras e
números todos são sinais que representam coisas e seres além deles mesmos.
Assim, se pode dizer que comunicação é basicamente a arte de interpretação, ou
seja, a arte de dar significado a sinais. A Bíblia utiliza muito a Semiologia
para transmitir as suas mensagens. Costumamos dizer que a Bíblia fala através de
símbolos, parábolas e tipos. Um exemplo bastante conhecido é o uso da
numerologia para atribuir significados divinos a certos números: o número um
para significar a unidade de Deus, o três para indicar a Trindade, o sete para
indicar Divindade. Os números podem se tornar instrumentos de revelação bastante
precisos. A matemática, talvez a mais árida de todas as ciências, é, quem sabe,
a que mais revele a presença de Deus, pois sabemos que tudo que é físico pode
ser matematicamente representado. Contudo, ao dizermos que podemos utilizar a
Semiologia para ler a Bíblia, devemos entender que a Semiologia não é uma
ciência exata como a Matemática e sua eficácia depende muito da qualidade da
hermenêutica que se lhe aplica.
Interpretação de signos lida com convenções. Tome por exemplo as cores:
vermelho, significa "cuidado" devido à cor do sangue, que quando exposto
significa perigo à vida, verde significa "flora" por que esta é a cor que
predomina na vegetação, e azul significa "celestial" devido à cor dos céus.
Contudo, as cores assumem múltiplos significados em diferentes culturas. Por
exemplo, enquanto azul significa "auspício" para os brasileiros, "blue" é uma
cor indicativa de tristeza para os norte-americanos. Portanto, os símbolos
dependem da convenções, ou seja das relações que as pessoas atribuem ou
descobrem entre os signos e as coisas. Jesus em certa ocasião, criticou a sua
geração por não saber interpretar os "sinais do tempo". Ele insistia em dizer
que os milagres que ele realizava eram "sinais" de que o reino de Deus havia
chegado. Sinais são também sintomas. A palavra semiologia é igualmente utilizada
em Medicina para tratar da sintomatologia das enfermidades. Através dos sintomas
os médicos identificam as doenças. Jesus no capítulo 24 de Mateus deu vários
sinais que antecederiam a sua vinda, para que pudéssemos reconhecer quando
aquele tempo estivesse próximo.
Jesus utilizou muita semiologia ao ensinar através de parábolas. A parábola é
uma descrição dos processos de vida ou da natureza, que de si mesmas descrevem o
óbvio, ou seja, algo que a maioria sabe. Geralmente após enunciar as parábolas,
Jesus dizia: "Quem ter ouvidos para ouvir, ouça". Esta frase era em si uma outra
parábola, pois sabe-se que os ouvidos são para ouvir e que a maioria das pessoas
ouvem através dos mesmos. A obviedade das palavras eram uma indicação de que
elas deveriam ser entendidas como sinais de verdades espirituais. A escolha de
Jesus de ensinar por parábolas foi muito sábia, porque dá a chance que cada
indivíduo as interprete de acordo com a luz espiritual que possui. Além disso,
era uma maneira de ensinar verdades revolucionárias a respeito do reino de Deus
sem explicitamente declará-las, e assim atrair a ira religiosa dos judeus ou a
ira política dos romanos. Existem certas "regras" hermenêuticas para se
interpretar as parábolas, mas nada impede que se lhe atribuam significados
pessoais para a edificação pessoal de cada seguidor do evangelho. Em última
análise, a interpretação dos sinais é inteiramente subjetiva, podendo ou não
concordar com uma determinada convenção.
Ao contrário do que muitos crêem, a interpretação que a Bíblia sugere dos
sinais nem sempre são unânimes. Por exemplo, enquanto o Livro do Apocalipse fala
do Dragão como um detestável símbolo do Anticristo, o Livro de Jó fala de uma
"serpente" com as mesmas características de um dragão com admiração e o retrata
como uma das mais belas criatura de Deus! Como dito, interpretações dependem do
intérprete, e assim como fundamentalistas dão as mais estapafúrdias
interpretações aos conflitos bíblicos para fazer harmonizá-los, chegando mesmo a
criar uma "Harmonização dos Evangelhos", outros mais liberais lançaram mão de
igualmente "forçadas" interpretações" para que concordem com suas
pressuposições. Se há uma verdade que a Semiologia nos ensina é que a verdade é
de acordo com os olhos de quem a vê. Em outras palavras, interpretações nunca
são objetivas, e sim, sempre subjetivas. Seres finitos como nós humanos, não
podemos ter a pretensão de sermos, sequer uma vez, objetivos. Somente Deus que é
absoluto e infinito possui conhecimento total, absoluto e infinito da verdade.
Desta maneira, a dogmatização, isto é, impor uma interpretação a um determinado
grupo, é altamente abusiva e, eu diria, até mesmo blasfemo, pois se arroga de
uma infalibilidade que só a Deus cabe.
Homens brasileiros e americanos podem dizer: "Oh, I felt so embarassed!" ou,
"Oh, eu me senti tão embaraçado!" Mas se estas frases são entendidas ou
traduzidas como tais para quem fala o Espanhol, será motivo de risa, pois na
fala espanhola "embarazar" significa "engravidar", do que homens claramente não
são capazes. A interpretação dos signos são relativos a nações, culturas,
línguas, grupos e, em especial aos indivíduos. Cada um pode ter a sua própria
interpretação. Um dos princípios mais importantes da Reforma Protestante foi a
reafirmação de que indivíduo pode ler a Bíblia por si mesmo, isto é poder
interpretá-la por si mesmo. Igrejas e denominações podem ter as suas doutrinas
que os identificam como tais. O que, em minha opinião é errado, é tentar impor
uma interpretação particular a todo o resto. As confissões deveriam ser guias,
sugestões aos membros, mas não obrigatórias, mandatórias, condicionantes à fé
pessoal. Igrejas e denominações deveriam ser instrumentos para desenvolver o
conhecimento e adoração de Deus, o enlevamento espiritual dos membros, e o
serviço ao semelhante -- não instrumentos de controle da fé.
Rev. Jose Oliveira
O Rev. Jose Oliveira é um ministro presbiteriano, fundador e diretor do Instituto Teológico Simonton, uma escola teológica online oferecendo programas se Teologia nos níveis Básico, Bacharel e Mestrado. Se você estiver interessado em estudar Teologia Online, clique abaixo:
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