Saturday, August 9, 2014

A Natureza dos Evangelhos


A Natureza dos Evangelhos.
Um artigo por Jose Oliveira, M.Div.
O meu primeiro contato com os Evangelhos, e com a Bíblia de uma maneira geral, foi através da leitura de um exemplar de bolso do Evangelho de João. Eu o li quando tinha doze anos de idade. Quando o li, não sabia que era parte da do Novo Testamento ou da Bíblia. Eu o li de um só fôlego, do começo ao fim, e a parte que mais me tocou foi a crucificação de Jesus, que ao ler, lembro-me, não pude conter o choro. Eu havia sido tocado, sem saber, por um escrito de quase dois mil anos que, igualmente, havia tocado milhões de outras vidas desde a sua origem.

Quase cinquenta anos depois, os Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) ainda me impressionam. Impressionaram-me tanto que tornei-me um estudioso deles. Neles eu meditei, neles eu busquei respostas e conforto em horas diversas. Não há dúvida sobre o poder deste lívros bíblicos. Mas esse poder que cativa o interesse de tantos, nao é pela sua beleza literária, pois nos manuscritos antigos eles são escritos simples, vazados  na língua populaçha dos tempos de então, destinados aos simples. A beleza dos Evangelhos provém do seu personagem maior, Jesus de Nazaré. É a pessoa, o ensino e a vida de Jesus de Nazaré que fazem os Evangelhos os escritos supernos que são. A pessoa e a vida de Jesus de Nazaré determinam em tão grande medida a natureza dos Evangelhos que podemos dizer Ele é a alma e coração dos Evangelhos. Posto de maneira proposicional, os Evangelhos são  escritos judaico-cristãos sobre a vida e o ministério de Jesus de Nazaré, com finalidade querigmática. Essa é, em poucas palavras a natureza dos Evangelhos: o anúncio da vida e o ministério de Jesus, chamado o Cristo.

Tivesse Cristo se manifestado na India, talvez os escritos que recontassem sua aparição seriam de natureza indiana. Mas aprouve ao Pai manifestar este Filho de Deus no contexto de um povo que foi, entre todos os povos da terra, aquele que mais acumulou e melhor registrou a revelação divina em sua história, o povo judeu. Porisso chamamos os evangelhos de judaicos, por que foram frutos de uma nova e massiva revelação dentro do Judaismo, aquela que foi dada por intermédio de Jesus de Nazaré. E são cristãos por que aqueles que os escreveram não o fizeram a respeito de qualquer pessoa, mas de Jesus Cristo. Tivessem os Evangelhos sido escritos a respeito de qualquer outra pessoa, não teriam tido a repercussão e influência que possuem hoje sobre toda a Humanidade.

Contudo, o que mais pode ser dito a respeito da natureza dos Evangelhos, além de sua natureza jesuânica? Organizei os meus pensamentos a respeito do assunto através três categorias epistemológicas: essencial (essência), instrumental (objetivo) e existencial (contribuição).

Primeiramente, reconhecamos um fato básico a respeito dos Evangelhos, algo tão óbvio que muitas vezes não é sequer mencionado. Os evangelhos são escritos religiosos. O conservadorismo evangélico hodierno, através do fundamentalismo do século passado, criou uma certa resistência ao termo “religião”, ainda que não fosse assim nem na origem, nem no desenvolvimento primitivo do Cristianismo, onde o termo “religião” era utilizado como sinônimo de “fé”. Evangélicos preferem o termo "espiritual” em se tratando dos evangelhos do que “religioso”. Contudo, eu julgo importante referir aos Evangelhos como escritos de natureza religiosa, exatamente porque os põe, como escritos, em pé de igualdade com demais escritos religiosos de todas as demais religiões do mundo. Isso ainda mais pode escandalizar os evangélicos que exarcebaram o exclusivismo religioso já existente no Cristianismo desde antanho, querendo fazer do Cristianismo algo superior às demais religiões -- o que ele não é. O Cristianismo é, em essência, uma religião evolucionária como as demais. Os Evangelhos são escritos religiosos como muitos outros. O que diferencia tanto o Cristianismo, bem como os seus escritos das demais religiões não é a sua natureza, mas o seu conteúdo, especialmente, a pessoa imcomparável de Jesus Cristo, de quem os evangelhos tratam prioritariamente.

Em segundo lugar, quanto à finalidade dos Evangelhos, observemos que o propósito dos evangelhos é basicamente biográfico. Aqui também eu divirjo da concepção mais aceita no Evangelicalismo, a qual assume que os Evangelhos não são relatos biográfios, isto é, não são biografias de Jesus Cristo. E, ainda que isto possa estar formalmente correto, pois nem todos os elementos de uma biografia estão presentes no estilo dos Evangelhos, é inegável que eles registram por escrito (gráfica), de uma forma ou outra, fatos que tratam de uma vida (bio), a de Jesus Cristo. Não vamos ao extremo de de afirmar que os Evangelhos são biografias no sentido estrito do termo. O que afirmamos é que os Evangelhos sugiram com um propósito biográfico, o de contar, de uma maneira fideísta, a vida de Jesus Cristo. E, neste sentido, os evangelhos são um esforço biográfico a respeito de um lider religioso como tantos outros existentes na literatura mundial, sejam eles fideístas ou não. Esta classificação igualitária dos Evangelhos não os reduzem em importância, por que como reiteradamente afirmado, a importância e a influência dos Evangelhos não consiste no estilo em que foi escrito; consiste, antes, na vida da pessoa que estes escritos milenares retratam: a de Jesus de Nazaré. Não importa que os Evangelhos não se enquadram nos aspectos formais de uma biografia, importa que, ao modo próprio deles,trazem relevância à vida única deste ser humano único, com uma missão única, Jesus Cristo.

Por último, referente à contribuição dos Evangelhos, quero afirmar a sua natureza confessional. Os evangelhos não são escritos confessionais ao estilo das modernas Confissões de Fé ou mesmo dos Credos que remontam aos primórdios do Cristianismo. Os evangelhos são confessionais porque foram escritos desde a perspectiva de quem creu na pessoa e nos ensinos de Jesus Cristo e quiseram expressar e propagar (querigma) essa confissão de fé. Os evangelhos não são uma pesquisa biográfica a respeito de Jesus Cristo onde os autores, quem sabe desde uma posição neutra inquirem a respeito da vida de Jesus Cristo. Ainda que um dos Evangelhos pareça ter esse intento investigativo, o Evangelho de Lucas,  claramente se vê nele o aspecto confessional: primeiro na introdução onde ao Evangelho é dado uma missão confirmatória da fé em Cristo, e no seu conteúdo, pela seleção do material e personagens pesquisados, os quais eram do círculo dos apóstolos e discípulos de Jesus Cristo. Os evangelhos não lançam uma proposição teorética, aberta à discussão, de que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Os Evangelhos categóricamente afirmam isto, e esperam que seus leitores também o creiam. Porisso, os Evangelhos são escritos estritamente confessionais. Mas não são únicos neste aspecto. Muitos outros escritos religiosos, incorporam um aspecto confessional da religião que representam. De novo, o aspecto  dos evangelhos, como escritos únicos, não é o fato que confessam uma nova religião, é, antes o fato que confessam fé na pessoa e nos ensinos de Jesus Cristo. Foi a vida e os ensinos de Jesus Cristo, as quais os evangelistas confessaram crer, que transformaram vidas por quase dois mil anos, não qualquer confissão.

Portanto, os Evangelhos são escritos distintos e únicos, mas não por serem judaicos ou cristãos, mas sim por que tratam da vida e dos ensinos de Jesus Cristo. Igualmente, a autoridade dos evangelhos não provém de seu caráter religioso, biográfico ou confessional, mas da autoridade da vida e dos ensinos de Jesus Cristo, neles revelados. Os evangelhos não são perfeitos como escritos… possuem erros de muitos tipos, inclusive de concepção, mas eles, em nenhum lugar clamam esta inerrnâcia. Os evangelhos são escritos que se preocupam com uma só coisa: proclamar a Jesus Cristo e os seus ensinos. E ainda que o fizeram no contexto das limitações humanas, a natureza única da pessoa e dos ensinos de Jesus Cristo são de tal poder que superam essas limitações humanas e atraem a fé religiosa de pessoas que se deixam transformar por essas convicções evangélicas. Assim, o que fez os Evangelhos se tornarem Evangelhos, não é o fato que pertencem a uma religião superior, ou porque exibem um estilo literário superior. Mas é, de maneira clara e inegável, porque tratam, de uma maneira confessional, dessa pessoa única e superior, Jesus de Nazaré, o Cristo, o Senhor deste Universo e Salvador dos que nEle creêm.

Rev. Jose Oliveira possui um grau de Mestre em Divindade pelo Northern Baptist Theological Seminary (Lombard, IL - USA) e é o diretor-fundador do Illinois Theological Seminary e do Instituto Teológico Simonton, ambos escolas teológicas online, streaming desde Chicago, IL - USA. Se você gostaria de estudar Teologia pelo meio online, contate o Instituto Teológico Simonton.